No Brasil, o dia 20 de novembro é lembrado como o Dia da Consciência Negra.
A data remete à morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 1695, símbolo da resistência e luta dos africanos contra escravidão no país.
No contexto escolar, a Lei nº 10.639/2003 acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a inclusão deste dia no calendário escolar.
Bem como estabeleceu o ensino sobre cultura e história afro-brasileiras, evidenciando o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.
Neste artigo, vamos explorar formas de abordar este tema em sala de aula em cada etapa de ensino e nos debruçaremos sobre a importância da educação antirracista nas escolas.
Dia da Consciência Negra e a Educação Antirracista
A autora e filósofa brasileira, Djamila Ribeiro, em seu livro “Pequeno Manual Antirracista”, afirma que reconhecer o racismo é a melhor forma de lutar contra ele.
A Educação Antirracista busca combater o preconceito e a desigualdade racial dentro e fora das salas de aula, valorizando as contribuições históricas dos povos afro-brasileiros na construção social e cultural do país.
Contudo, embora esteja prevista por lei e tenha se popularizado enquanto termo, a Educação Antirracista na prática se apresenta como um desafio para os docentes.
Quem sugere esse cenário são os dados divulgados pela ONG Nova Escola, que revela que 87% dos educadores defendem que a pauta é “extremamente relevante”, mas 62% não se sentem bem preparados para aplicar ensinamentos antirrascistas e somente 14% declaram ter conhecimento de trabalhos bem estabelecidos na área.
A pesquisa ainda traz que 70% dos educadores – professores e gestores de escolas – presenciaram atos racistas dentro das instituições nos últimos cinco anos.
E 55% relata que situações racistas são “muito presentes” onde trabalham.
Esses dados são alarmantes e reforçam dois pontos: 1. a importância da educação antirracistas desde as primeiras etapas de ensino e 2. a necessidade da gestão escolar investir em uma formação de professores que os capacite para isso.
O que fazer diante desse cenário?
De acordo com a educomunicadora Elisa Tobias, é importante que os professores se envolvam nesse debate não só como educadores, mas como cidadãos.
Ela defende que os docentes que assumirem tais práticas serão vistos como um porto seguro para apoio em casos de opressão de estudantes pretos.
Tobias ainda destaca o exemplo de algumas escolas particulares que realizam atividades relevantes nesse sentido, reunindo toda a comunidade escolar para tratar temas relacionados às questões raciais.
Cobrar a presença de professores negros, realizar palestras com pesquisadores, fomentar programas de bolsas que contemplem alunos pretos e pobres, distribuir conteúdos específicos sobre o assunto e promover o letramento racial são algumas das ações realizadas por esses colégios e que fazem com que o debate seja estendido para as famílias e seus territórios.
Além disso, existem atividades que podem ser aplicadas em todas as etapas de ensino e ajudarão nesse processo e podem ser aplicada não somente no Dia da Consciência Negra, mas o ano todo.
Como veremos a seguir.
Ideias para trabalhar o Dia da Consciência Negra nas escolas
Dia da Consciência Negra na Educação Infantil
Na Educação Infantil, a abordagem pedagógica pode trazer elementos significativos da cultura afro-brasileira para o universo das crianças.
A contação de histórias, por exemplo, onde protagonistas pretos, seus valores e sua cultura se apresentam e auxiliam na compreensão e identificação das crianças com essa pluralidade cultural.
Também é possível explorar pinturas, artesanatos e desenhos inspirados na cultura afro, incentivando a expressão artística e a valorização estética desses elementos.
Essa vivência artística permite que as crianças mergulhem nas cores, formas e simbolismos presentes na cultura afro-brasileira.
O mesmo se aplica a música e a dança. Introduzir ritmos e danças tradicionais é uma forma dinâmica de mostrar diversidade e riqueza cultural.
Ensino Fundamental 1
Já no fundamental 1, é possível aprofundar o entendimento estudando figuras históricas como Zumbi dos Palmares e Dandara.
Conhecer suas trajetórias facilitará a compreensão do legado de luta e resistência desse povo, além de valorizar sua contribuição para a construção da identidade nacional.
Promover oficinas com confecção de instrumentos musicais e culinária típica afro-brasileira são atividades que instigam a criatividade e conectam os estudantes com aspectos importantes da cultura afro-brasileira.
Ensino Fundamental 2
No fundamental 2, é preciso expandir para abordagens mais profundas e reflexivas.
Iniciar debates sobre igualdade, diversidade e preconceito racial e estimular os alunos a discutirem e refletirem sobre esses temas amplia a compreensão das raízes e dos impactos sociais.
Explorar a literatura afro-brasileira é outra via relevante.
Trabalhar obras de autores afro-brasileiros, como Machado de Assis, Carolina Maria de Jesus, Djamila Ribeiro e entre outros.
Os alunos também devem pesquisar e sugerir livros e autores de seu interesse, enriquecendo as discussões com base em suas perspectivas.
Convidar especialistas do movimento negro para falar sobre a história e a influência da cultura afro-brasileira na sociedade também é importate.
Por fim, outra sugestão, é promover encontros com comunidades quilombolas que aproxime os alunos da realidade e legado cultural dessas comunidades para o país.
Ensino Médio
Nesta etapa, é preciso promover análises históricas que expressem como a cultura africana contribuiu nos âmbitos religioso, musical, gastronômico e em outros aspectos socioculturais do país.
Sendo assim, incentivar pesquisas que investiguem a presença da cultura afro-brasileira em esferas como ciência e política, trazendo para sala de aula a realidade problemática da desigualdade racial, como a baixa representatividade preta em espaços de poder.
Nesse sentido, é preciso encorajar os alunos a participarem ativamente de iniciativas que buscam a igualdade e equidade racial. Nas palavras da professora e filósofa Angela Davis:
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista” e a escola deve ser o espaço onde os alunos entenderão isso.